GABRIELA HOLANDA.

DESAGUANDO EM MAR
Impulsionada pela vivência de (de)compor em fluxo corpo-ambiente e pelo experimento e versão em fotoperformance de Diluindo-me em rio-cachoeira, cresceu em mim a necessidade de experimentar as possibilidades (de)composicionais ecoperformativas no encontro com o mar, tão presente em Sopro d’Água e em mim, que fez nascer tantos fluxos e estados corporais. Em março de 2019, em Itamaracá, Pernambuco-BR, durante dois dias de investigações, realizei experimentos ecoperformativos que fluíam entre compor e (de)compor guiada pelos fluxos corpo-ambiente. As fotógrafas Aline van der Linden e Thais Lima, junto a Thiago Neves, criador musical em Sopro d’Água, desaguaram em água salgada comigo. Eu, Aline e Thais, nos deixamos ser atravessadas pelos fluxos de cada uma, diluímo-nos e tornamo-nos co-criadoras desta versão de Sopro d’Água, ao passo que cada artista manteve sua perspectiva sobre a criação.


No primeiro dia, pela manhã, realizei um laboratório de percepção da materialidade corpo-ambiente e de dança aquática com todos criadores. À tarde, mergulhei no dançar em estado de fluxo corpo-ambiente, enquanto a possibilidade de compor imagens fluía entre mim, Thais e Aline. Pessoas na praia, maré enchendo, sol se pondo. Toda perspectiva deste ambiente me afeta, afeta minha dança e os estados emergidos, assim como afeta as imagens e as sensações das fotógrafas e as escolhas compositivas de cada uma.


No segundo dia, acordamos antes do nascer do sol e iniciamos nossa imersão com sol nascendo. Mar que acolhe. Maré que se esvazia. Luz branda. Sol que se espalha no mar. Luz que se reflete na água. O céu se torna líquido. Não se sabe mais no ambiente onde é água e onde é céu. O nascer em oceano-interno emerge em mim e me faz seguir o fluxo. A necessidade da composição cresce, como modo de materializar memórias-sensações em memórias-imagens. Transmudo a roupa de acordo com a necessidade do ambiente e da imagem que nos atravessa. Como o figurino e a luz transforma a (de)composição da imagem?

