GABRIELA HOLANDA.

SOPRO D'ÁGUA
Sopro d’Água transpira nossa dimensão aquática e ambiental, percorrendo desde memórias ancestrais à urgência da questão hídrica. A performance mergulha nas profundezas de um corpo-ambiente em fluxo, transbordando para a cena uma dança de estados corporais a partir da materialidade da água-corpo-ambiente.
Processo de criação com mais de seis anos, o espetáculo integra a pesquisa “Sopro d’Água: corpo-ambiente em fluxo criando (de)composições em dança”, desenvolvida pela dançarina-performer Gabriela Holanda, no mestrado em Artes Cênicas na Universidade Federal da Bahia.
Durante o processo, a dançarina-performer realizou experimentos compositivos a partir da qualidade de movimento dos fluidos corporais e da dança aquática. Foram realizadas vivências em diferentes ambientes aquáticos, como mar, rio e cachoeira, a partir da proposta de dançar em sintonia com o ambiente. Esses experimentos criativos geraram outras criações como ecoperformances e fotoperformances que, por sua vez, transformaram e expandiram Sopro d’Água.
A criação desfaz as fronteiras entre as linguagens artísticas assim como as dicotomias entre corpo e ambiente, ecologia e arte, assumindo a existência ambiental dos criadores de dança como impulso para o processo criativo. O abandono de pontos de vistas antropocêntricos na arte e a inclusão do não-humano na base compositiva da dança faz emergir em Sopro d’Água em um modo ecocêntrico de cria(ação).
Ao olhar para os impulsos indicados pelo fluxo corpo-ambiente, a criadora de Sopro d’Água mergulham em outros modus operandi: o do corpo mobilizado pela relação. Movidos pelos afetos, as artistas de Sopro d’Água habitam o corpo do entremeio, no qual somos impelidos a ser e estar no mundo e em sintonia com o meio.
Não habitamos um ambiente, somos ambiente: oceanos internos nos atravessam; dentro de nós vivem ecossistemas; os códigos genéticos dos seres vivos da Terra carregam os mesmos alfabetos. Toda água que nos atravessa atravessou nossos ancestrais. A sabedoria e memória ancestral nos reconecta à existência ambiental e nos ajuda a enfrentar os desafios de um mundo em colapso climático. Para construirmos um futuro decolonial e não-hegemônico torna-se urgente assumirmos nossa existência ambiental, libertando relações e corpos humanos e não-humanos.


